Sinto-me bem. Estou sentada ao pé da janela a ver pessoas a passarem na rua, lá fora. Sempre gostei de fazer isto. Lembro-me vagamente de ir sozinha para esplanadas apenas para ficar a observar as pessoas. Não sei porquê mas sempre me tranquilizou. Sempre me fez sentir bem. “Olá, Dona Rosalinda. Olhe, vamos para ali juntarmo-nos às outras senhoras para fazermos uma coisa?”, diz-me uma menina que está de bata azul. “Obrigado”, digo-lhe, “mas estou bem aqui”.
– Aqui sozinha?! Não é muito melhor estarmos todos juntos ali?
– Sim, mas eu aqui estou mais sossegada…
– Está mais sossegada mas não está a fazer nada! Vá, vamos lá para ali, vai ver que vai gostar.
– Olhe, muito obrigada, mas eu queria mesmo ficar aqui…
– Oh, Dona Rosalinda! Não me vai fazer esta desfeita! Vá, levante-se e vamos para ali fazer uma coisa que vai ser gira com as outras senhoras.
Sou obrigada a ir com a menina, até porque acho que esta casa é dela e seria uma falta de educação se eu não aceitasse o seu pedido. Mas preferia continuar sentada, a observar as pessoas que passam lá fora… A menina ajuda a levantar-me e leva-me para junto de uma mesa onde já estão outras senhoras sentadas. Dá-me uma folha e uma caneta e diz-nos que vamos fazer umas contas para ajudar a puxar pela cabeça. Olho para a folha e vejo vários números. Não me está nada a apetecer fazer contas. “Menina”, digo-lhe, “não leve a mal, mas eu agora não queria fazer isto… Posso ir ali para ao pé da janela?”. Ela não me dá autorização e diz que eu poderei ir embora depois de fazer todas as contas.
“Vamos lá, Dona Rosalinda, puxe pela cabeça”. Parece que vou ter mesmo de fazer estas contas todas. O mehor é começar a fazê-las. Cinco mais seis. Oito menos três. Não percebo porque tenho de estar a fazer isto. Doze menos quatro. Onze mais dois. Estava tão bem ao pé da janela a ver as pessoas passar… Quinze mais doze. Treze menos seis. E agora tenho que ficar aqui a fazer uma coisa que não quero…. Dezassete menos nove. Dezassete menos nove… Quanto é dezassete menos nove? Não me lembro. Não acredito que não me lembro! Ao que eu cheguei! Nem uma conta de escola sei fazer! Poiso a caneta. Sinto-me mal.