– “Vamos almoçar, Sr. Joaquim?”, pergunta-me uma rapariga nova, muito simpática.
– “Claro que sim, já estou cheio de fome!”. Queria dizer-lhe estas palavras mas tudo o que consegui foi murmurar alguns sons. Felizmente, foi o suficiente para ela perceber. Ajudou-me a levantar e, gentilmente, conduziu-me até à mesa. Agradeço-lhe, ela sorri e vai-se embora.

Sento-me na mesa, juntamente com três pessoas e fico à espera da comida. Nunca mais a trazem. Não percebo porque me disseram para vir almoçar e agora não tenho aqui a comida. Ah, ali vem, finalmente. Trazem-me sopa. Caldo verde. Detesto caldo verde, nunca gostei… Fico desiludido e pergunto se não têm outra sopa. Ninguém me parece perceber. Pronto, resta-me esperar pelo prato que vem a seguir.

Passado alguns minutos, aparece uma outra senhora, mais velha, que se senta ao meu lado e diz: “Então Sr. Joaquim, não come a sopinha? Coma que é bom! É caldo verde!!”. Tento dizer-lhe que sei perfeitamente que é caldo verde e que é por isso mesmo que não quero comer. Mas ela não parece compreender. “Tem de comer, Sr. Joaquim! Vá, eu ajudo-o.”, diz-me. Pega na colher, mergulha-a na sopa e leva-a até à minha boca. “Não gosto”, digo-lhe uma vez mais enquanto cerro os dentes. Ela insiste e eu viro a cara. Acho que isso a fará entender que detesto caldo verde. “Vá lá, Sr. Joaquim, não seja assim… Coma lá.”. Entretanto passa a outra rapariga simpática, a que me ajudou a sentar na mesa, e ouço-a dizer que se calhar eu não gosto de caldo verde. Finalmente alguém que me percebe! É isso mesmo! Eu detesto caldo verde!

Mas, infelizmente, a senhora que me está a dar a sopa responde: “Toda a gente gosta de caldo verde! Ele é mas é casmurro”. E continua a insistir em dar-me a sopa. Uma e outra vez. “NÃO!!!”, grito, e desta vez a palavra sai-me com bastante clareza. Afasto a colher com a mão e sujo a mesa. A senhora fica chateada, diz-me que estou a ser malcriado e que tenho mesmo de comer. De seguida faz outra investida, desta feita abrindo-me a boca com uma mão e com a outra atirando-me a sopa lá para dentro. Não consigo suportar o sabor do caldo verde e, quase automaticamente, cuspo tudo para cima dela.

Agora fica muito zangada e chama-me de estúpido, de mal-educado, de porco. Mas afinal o que é isto?! Esta mulher, que eu não conheço de lado nenhum, primeiro obriga-me a comer uma coisa de que não gosto e agora insulta-me?! A mim, que tenho idade para ser pai dela? Ela precisa é que alguém lhe dê educação! Dou-lhe uma merecida estalada para ver se aprende.