Salvador Sobral ou a era do vazio nos lares de idosos em Portugal
Ao receber o prémio, Salvador disse que a música não é fogo de artifício, é significado, é sentimento. Como Terapeuta Ocupacional fui de imediato transportada até à forma como as actividades são usadas neste momento nas instituições para as pessoas idosas.
Há cerca de 40/50 anos quando se iniciou o caminho de, supostamente, abandonar os asilos e criar os primeiros lares de idosos, a ordem era cama, comida e roupa lavada, sendo que mais tarde acrescentaram a medicação e a TV à equação. Equação esta, que perdurou no tempo, obtendo sempre o mesmo resultado : Mal estar dos residentes e uma imagem pública muito negativa – “Os lares são depósitos”.
Chegámos finalmente à era onde se compreende a importância da actividade…E de repente temos salas dos lares enfeitadas, pessoas mais velhas de coroas enfiadas na cabeça por altura do dia dos Reis…E transformou-se algo que é básico e essencial à vida humana, que é o envolvimento em ocupações significativas, num espectáculo de fogo de artificio, só para “inglês ver”, onde assistimos, por vezes, a coisas tão ridículas e deprimentes como o macaco e o homem com cabeça de cavalo em pleno palco a acompanhar um cantor!E é nesses instantes que se instala o vazio.
De tanto querer fazer e mostrar, perdemos o SER. Foi isso que o Salvador nos deu e foi por isso que ganhou.
Patrícia Paquete