As pessoas que vivem com demência em Portugal foram das que mais sofreram durante a pandemia.
Faço esta afirmação não baseada em factos científicos, mas de forma muito convicta.
Digo isto também por já ter tido oportunidade de conhecer muitas instituições, conhecidas como ERPI, antes da pandemia e pude observar o mal-estar em que muitas pessoas se encontravam.
Assim, se já naquela altura não eramos capazes de responder às suas necessidades psicossociais, se as estratégias utilizadas eram, na grande maioria das vezes, sempre as mesmas : contenção física e/ou quimica. As respostas eram, outra vez, na maioria das vezes, é da demência ou, mais especificamente, é do Alzheimer. Como acham que terão passado este período de mais de 2 anos?
Pelas dificuldades que têm e pela incapacidade do meio e dos seus parceiros de cuidados em se adaptar às alterações que vão acontecendo, devido ao processo demencial, estas pessoas foram as primeiras a ficar confinadas. Brutalmente confinadas.
Mas, também me pergunto, se, para muitas delas, a vida não terá mudado assim tanto…não viveriam já, confinadas?
A Alice ( de Lewis Carroll) perguntou ao Gato, que caminho deveria seguir? O Gato respondeu-lhe que isso depende do lugar para onde desejar ir….
Que caminho queremos seguir quando somos parceiros de cuidados de uma pessoa que vive com demência?
Quase sempre recebo como resposta :” Melhorar a qualidade de vida”
Depois pergunto: “Como vai fazer isso?”
E tantas, tantas vezes, respondem-me faço às pessoas o que gostaria que me fizessem!!!!
Perante o que é a realidade das pessoas que vivem com demência em insitutições, só posso depreeender que muitos dos seus parceiros de cuidados têm como ambição na vida, passar os seus últimos anos excessivamente medicados ou amarrados.
Ou, apenas não sabem para onde querem ir na sua jornada de prestação de cuidados…porque a resposta pronta, colada e vazia :”Qualidade de vida”, já não serve, já não nos serve,e, sobretudo, já não serve para as pessoas que vivem com demência.
Todos sabemos que a qualidade da prestação de cuidados às pessoas com demência, em Portugal, é, na generalidade bastante pobre e muito pouco centrada na pessoa que os recebe:
1. Instituições demasiado grandes e geridas de forma asilar e massificada
2. Preconceito generalizado em relação às pessoas mais velhas e em relação às pessoas com demência
3.Infantilização ( uma das formas de idadismo) e desempoderamento das pessoas com demência
4.Sem projetos de vida; sem oportunidade de se envolverem em ocupações significativas
5. Estão no vazio relacional e ocupacional
6. Equipas desgastadas, pouco estaveis, que usam as mesmas estratégias de há 50 anos e que ainda aguardam por resultados diferentes
7. O mal-estar ( agitação, apatia,agressividade) continua a ser visto “apenas”como mais um sintoma de demência.
Os parceiros de cuidados não são todos iguais e há muitos que sabem que caminho tomar na sua jornada de prestação de cuidados, com imensas duvidas, com imensos receios, porque não é um caminho fácil, mas, quando de sabe onde se quer chegar, quando se tem uma visão, onde a pessoa cuidada entra na equação e aparece enquanto pessoa no seu processo individual, então tudo é mais claro, tudo tem mais sentido e tudo ganha um siginificado para quem cuida e para quem é cuidado.
Deixo uma última pergunta para quem chegou até aqui:
Ainda está a justificar determinadas práticas ( que sabe que não são as mais corretas) com o covid?
A Humanamente