Estimulação computorizada ou “tradicional”?

No momento de selecionar a abordagem a utilizar para a estimulação cognitiva das pessoas mais velhas e das que já apresentam defice cognitivo ( seja ligeiro, seja por já existir um processo demencial), é inevitável procurarmos pela evidência.

Há cada vez mais evidência que programas desenhados especificamente para estimular competências como a memória de trabalho ou outras funções executivas apresentam bons resultados.

E a discussão instalou-se entre estimulação computorizada ou a utilização de exercícios de papel e lápis ou outras abordagens psicossociais.

Neste artigo, questionamo-nos sobre a proposição utilizada : ou….

Porque temos que usar uma coisa ou outra? Porque não conseguimos englobar todas as estratégias que mostram ter bons resultados?

Sabemos que a variedade de estimulos é benéfica para a manuntenção da saúde do cérebro.O ser humano precisa de receber estimulos através dos seus orgãos sensoriais, da forma mais variada e rica possível. Sem excesso, de forma agradavel, sem causar stress.

Sabemos, igualmente, que todos temos formas diferentes de aprender: Há quem tenha que ler e escrever para memorizar, há quem tenha que ouvir, há quem tenha uma memória olfativa extraordinária ( sabemos que a discriminação olfativa está  muitas vezes comprometida na demência).

Para além da importância de termos oportunidades de estimulação variadas, existem outras questões a ter em conta, no que diz respeito à utilização das tecnologias no momento da estimulação da pessoa mais velha, com ou sem demência:

  1. As novas tecnologias não podem ser usadas para substituir a presença de um parceiro de cuidados.
  2. Quando adquirimos as licenças, os programas, os equipamentos, temos a certeza de que, quem os vai usar, quem vai ser o facilitador, teve a formação necessária?
  3. Fez as contas à relação custo-eficácia? Tem a certeza que o investimento que fez está a ser devidamente rentabilizado?
  4. No momento de escolher o equipamento e os programas, fez uma pesquisa para saber se já foram testados em Portugal? Se houve, pelo menos um estudo-piloto? Será que se vai adequar à sua população?
  5. Todos os elementos da equipa compreendem a importância da utilização correta, frequente do equipamento?
  6. Antes de adquririr o equipamento e os programas, pensou onde vai ficar? Existe um espaço com privacidade, com todas as condições necessárias à sua correta utilização, ou vai apenas colocar o computador num cantinho da sala de TV?

 

As mesmas perguntas se devem colocar na hora de adquirir produtos para estimulação “tradicionais“. É, igualmente importante que se planeie a forma como se vão usar os puzzles, os manuais de estimulação cognitva ou até os aquapaint!

Em conclusão, usar papel e lápis, ter oportunidade de explorar objetos reais será sempre importante, ter acesso a novas tecnologias, a programas de estimulação devidamente desenhados para “trabalhar”diferentes competências, é igualmente importante. Todas as formas de estimulação têm potencial de serem benéficas se responderem às necessidades dos seus utilizadores e se tiverem como prioridade o seu bem-estar e dignidade.

Patrícia Paquete