A propósito da inclusão das pessoas com demência…ou da falta dela:

A inclusão das Pessoas com demência, sobretudo quando as dificuldades cognitivas aumentam, não é fácil. No entanto devemos estar atentos ao nosso comportamento para que, de forma consciente, nos esforcemos para não as excluir.

O tema da inclusão, é, aliás, um tema chave na aplicação da Abordagem Centrada na Pessoa com demência.

Ao falar com uma colega, a quem tinha acabado de vender um conjunto Aquapaint Garden para usar com uma senhora que segue em contexto domiciliar, disse-lhe:

Posso fazer-te uma pergunta?

Tive receio que se ofendesse comigo, não queria chateá-la ou melindrá-la porque somos amigas e colegas, no entanto a forma como estava a falar da sua cliente incomodou-me.

A narrativa era amorosa, preocupada, com alguma frustração por estar a “conseguir” que a senhora comunicasse verbalmente, mas incomodou-me.

Adquirir produtos específicos para a pessoa com demência, resolve?

Recomendei-lhe experimentar o aquapaint porque me pareceu que para chegar à senhora já não era possível seguir a via cognitiva.

A resposta dela foi, “vou mostrar ao marido e vou dizer-lhe que vamos ver como ela reage”. Foi nessa altura que perguntei, se ela falava com o marido da senhora, às frente da senhora, sem a incluir na conversa. Ás vezes. Foi a resposta.

Fazemos isto diariamente, estamos muito atentos ao comportamento das pessoas com demência a quem prestamos cuidados, mas não estamos atentos aos nossos comportamentos.

Quem exclui primeiro? Os sintomas? Ou a nossa resposta aos sintomas?

Sim, resposta aos sintomas porque, se nós respondêssemos à pessoa, nunca a excluiríamos.

A senhora já fala muito pouco, por isso, a minha colega já não lhe apresenta a ela o novo produto, que ela vai usar, mas sim ao marido.

Tom Kitwood (1997) alertava para o perigo da objetificação das pessoas com demência.

Esta objetificação começa quando falamos delas, à frente delas, como se elas não estivessem lá.

De facto, não basta comprar produtos adequados para pessoas com demência e que promovem a participação, a inclusão e a dignidade.

Para que tudo isto seja uma realidade temos que observar os nossos comportamento em relação à pessoa com demência.

Posso fazer-lhe uma pergunta?

 

A Humanamente